“Somos um casal como qualquer outro, cuidamos um do outro”, afirmam cadeirantes


Após tristezas e desilusões Janaina Rodrigues, 35 anos, mãe e cadeirante, resolveu dar a volta por cima e recomeçar a sua vida. Dando essa chance a ela mesma, acabou conhecendo Milton Pilar, cadeirante, 47 anos. Eles moram no Rio Grande do Sul.
Acompanhe o lindo depoimento de Janaina Rodrigues:
Minha vida sempre foi muito corrida. Casei cedo, trabalhava onde gostava e no que gostava, estudava, fiz cursos que hoje ocupo para cuidar de mim, dos meus filhos que na época estavam com 1 ano e 3 meses  e 10 anos, e do  meu marido. Cuidava da casa, dos filhos, auxiliava colegas e amigos, enfim tinha uma vida normal e ativa. Costumava acordar às 5:30 h e dormia normalmente após às 23:00 h.
Em 05 de junho de 2014, minha vida mudou completamente… De estudante e formanda no curso técnico em enfermagem, passei a paciente, cadeirante, mãe, do lar, dependente da mãe, dos irmãos, tias, colegas de profissão, enfim, de todos que me cercavam.
Após 15 dias de lesão pedi separação do pai de meus filhos, por inúmeros motivos, mas a história seguiu seu curso.
Fiquei sozinha com meus filhos na casa da minha mãe, sem receber pensão, recebendo 60% do salário que recebia antes, entretanto recebi ajuda de familiares.
Quando faltava alguns dias para completar um ano de lesão medular, consegui a tão esperada  internação no Hospital Sarah Kubitscheck, onde fiquei por 34 dias. Lá aprendi o básico e o necessário para me afirmar novamente como estava acostumada antes. Pude novamente me sentir uma pessoa útil, pois já conseguia fazer as coisas que sempre gostei de fazer, voltei a fazer artesanato, voltei a cozinhar, a passear com meus filhos e também passear na casa de familiares.
Antes de ir ao Sarah frequentava uma instituição de auxilio às pessoas com deficiência onde tínhamos encontros semanais, fisioterapia, nutricionistas, socialização com outras pessoas com necessidades especiais, além de artesanatos em geral.
No grupo de psicologia conheci muitas pessoas, amigos que assim como eu tinha lesão medular por várias causas como: tombo de altura (telhado, construção civil), outros por acidente automobilístico, outros por arma de fogo e também por sequelas de AVC, mielomeningocele e poliomielite. Mas além de encontros semanais, havia estreitamento de amizade com algumas pessoas. Saíamos, conversávamos por celular, facebook, whatswap, messenger, entretanto algo muito importante foi se estreitando entre eu e outro participante, que assim como eu havia sofrido lesão medular por FAF (Ferimento por Arma de Fogo). Ficamos muito amigos. Saiamos juntos, ele me buscava em casa, frequentava a casa da mãe, enfim participávamos bastante um da vida do outro. Até que um dia ele me convidou para passar o fim de semana com ele em sua casa e como já tínhamos amizade suficiente aceitei.
Impressionante como a minha vida que há meses atrás havia mudado radicalmente, iria mudar novamente.
Foi um fim de semana de reconhecimento pessoal, de descobrimento de sensações esquecidas ou não tidas, adormecidas muito tempo, um fim de semana de descanso, beijos, carinhos, muitos amassos e claro sexo…
Redescobrir-me sexualmente foi algo inesperado, mas ansiado, calmo, gostoso, com muito carinho, confiança essa que era imposta desde os primeiros contatos no grupo de psicologia.
Em dez dias de namoro decidimos morar juntos. Sim morar junto! Chamaram-me de doida, louca, disseram que não iria dar certo, que eu nem sabia se realmente ele gostava de mim, se aceitaria meus filhos… Escutei por telefone tantas frases de que eu iria me arrepender. Mas me arrependi sim! De não ter feito essa mudança radical na minha vida antes.
Esse relacionamento me trouxe muito mais que um namoro e um marido, me trouxe segurança e amor. Amor que há muito tempo eu não sentia e nem sabia se um dia tive o prazer de ter sentido no meu relacionamento anterior. Aprendo diariamente  e sei o que é ter amor, ser amada e respeitada. Sei o verdadeiro sentido de um casamento.
Agora minha família está completa. Hoje meu filho mais novo tem 4 anos e o mais velho 14 anos. O mais novo mora conosco. Temos um atelier de artesanato onde meu marido é artista plástico, fabrica artes em madeira rustica, entalhe de mais variados tamanhos e formas. Temos muitos planos para o futuro. Somos um casal como qualquer outro, cuidamos um do outro, dos nossos animaizinhos, viajamos, trabalhamos… Somos felizes com o pouco que conquistamos e temos a família que é a base para formação de nossa felicidade.
Se deixarmos nos abater por estar ou ser cadeirante,  não seremos capazes de sentir e ver a felicidade ao nosso lado!
Fonte: http://www.raridade.blog.br/

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