Meu namorado é diferente!

Por Joana Moura
Meu namorado é diferente. Escolhi esse título justamente pra ter por onde começar o texto, e começo desconstruindo essa frase. Mas quem não é diferente? Até gêmeos idênticos são diferentes, não é mesmo? Pois bem, essa é a matriz fundamental do meu raciocínio: somos todos iguais porque somos todos diferentes.
Meu conceito particular à parte, aprendemos com a sociedade que se apresenta, que fulano é gordo, beltrano é crente, sicrano é preto. Classificamos as pessoas de acordo com as suas características sejam elas natas ou adquiridas, e assim fazemos diferenciações e segregamos. Nessa ótica, meu namorado é deficiente físico.
Nos conhecemos quando ele participava de um treinamento da seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas e eu acompanhava, à trabalho, a equipe. Entre histórias e histórias resolvemos ficar juntos e o amor cresce um pouquinho todo dia.
Deixando o romantismo de mulher apaixonada de lado, escrevo para desmistificar o relacionamento com pessoas deficientes. Para começar, declaro que déficit maior é o da alma e em seguida atesto que podemos fazer tudo o que quisermos, enquanto casal, com as devidas adaptações, claro. Uma trilha na Chapada Diamantina pode não ser a lua-de-mel mais adequada, mas se a gente quiser, será do nosso jeito.
Na prática, namorar um menino que tem mobilidade reduzida e se utiliza de aparelhos ou de cadeira de rodas para caminhar é diferente, desafiador, inusitado e divertido. Nossas histórias de idas à praia, rendem um capítulo divertidíssimo nessa história. Já as dificuldades para transitar nas cidades e dos direitos dos deficientes serem assegurados, é a parte do livro em que se protesta.
Não escapo dos olhares dos estranhos, da admiração dos românticos e da curiosidade dos que se aproximam. Não nego que é peculiar, mas tenho certeza que todos os relacionamentos acabam sendo, os que não são devem ser chatos. Garanto, como toda a certeza do mundo que a beleza é um fenômeno de dentro pra fora.
Estou longe de ser a namorada que enxerga as pernas finas e atrofiadas do amado devido à paralisia infantil, bonitas como as de um jogador de futebol. Não, não são, e ele também sabe que eu não acho. Mas enxergo a beleza de pernas que ficaram de pé a primeira vez aos seis anos de idade, que sofreram anos com as sessões de fisioterapia diárias e fizeram adaptações incríveis para se por verticalmente. Aí sim, elas são as mais lindas. Também não sonho naquela entrada clássica na noite de núpcias com ele me carregando no colo, mas não me oponho a carregá-lo pra minha vida para sempre.
Somos normais. Fazemos TUDO que todo casal faz e somos sábios. Damos risadas das dificuldades, brincamos com o que para muitos é constrangedor e buscamos solução para o não. Somos felizes.
Trazendo a realidade para as palavras, quantas mulheres iriam se opor a ter um relacionamento com um deficiente físico, exclusivamente pela sua condição. Quantas deixariam de conhecer pessoas maravilhosas como o meu namorado por preconceito. Sei que no sonho o príncipe não chega de cadeira de rodas, mas porque não?
O meu príncipe me ensina todos os dias que somos muito mais alma do que corpo, que podemos tudo o que a nossa coragem e força de vontade permitirem, que nesse mundo precisa ter espaço para todos, que o amor é um encontro de espíritos e não de corpos e que deficiência mesmo é a moral… a da falta de caráter e de honestidade. Foi esse príncipe que me mostrou que muito mais do que pernas para correr, precisamos de corações humanos para poder voar.


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