Me apaixonei por um homem com deficiência física

Por Liza Andrews
Sugiro que as mulheres que tenham conhecido alguém interessante em condições especiais, não se encham de apreensão e desistam de explorar aquela possibilidade antes de compreender a fundo o que envolve namorar alguém deficiente.
Um dos maiores medos da mulher é que por mais interessante que aquele homem seja, ele será incapaz de acompanhar o seu pique, na casa, na vida social, e principalmente, na sexual. Porém, há diversos tipos de deficiências e algumas, apesar de impedirem que o indivíduo caminhe, permitem uma vida bastante “móvel” e não afetam o desempenho sexual.
Recomendo que leiam o livro do escritor e colunista brasileiro Marcelo Rubens Paiva, cadeirante desde 1979, quando, aos 20 anos, fraturou a quinta vértebra cervical ao mergulhar em um lago.
“Muita gente não consegue imaginar que uma pessoa com deficiência tenha vida sexual”, afirma Marcelo, “A sociedade não consegue perceber esse cara como alguém que pode ser atraente, ter bom papo, ser bom de cama. Prefere vê-lo como doente, um coitadinho. Foi por isso que escrevi Feliz Ano Velho (lançado em 1981 pela Editora Brasiliense e relançado pela Objetiva). Para mostrar que um jovem nessas condições não deixa de ter sonhos, ambições e desejos.”
Para ilustrar a afirmação de Marcelo, segue a breve reportagem de Vera Garcia sobre o namoro de uma moça extremamente atraente com um cadeirante.
Ela desceu do elevador com as mãos trêmulas e o coração aos pulos. Tomou fôlego na portaria do prédio antes de entrar, de uma vez só, no carro estacionado em frente. Ela olhou para o homem atrás do volante pela primeira vez na vida e, sem dizer coisa alguma, o beijou.
Daiane Macedo e Rafael Magalhães se conheceram pelo Facebook. Em seu primeiro encontro, combinaram de evitar o constrangimento das primeiras palavras no mundo real com um beijo, logo de imediato. Não seria nada de extraordinário nesses tempos de amores incubados nas redes sociais, exceto por um detalhe (estranho para uns, encantador para outros): ela é Miss Bumbum e ele não move o corpo da cintura para baixo.
Tempos depois, quando o casal já estava namorando firme, uma foto deles foi publicada no site de uma revista de celebridades e causou polêmica na internet. O texto registrava em tons glamorosos o acontecimento da noite: “Daiane Macedo, vencedora do concurso Miss Bumbum 2013, comemorou seu primeiro aniversário como rainha da preferência nacional muito bem acompanhada. Com o namorado, Rafael Magalhães, ela usou um modelito curtinho ao marcar presença na casa noturna Outlaws, em São Paulo.”
Nos comentários da página, internautas manifestaram “opiniões” com o peculiar senso de humor que se ampara no anonimato, ridicularizando Rafael. O que esses despeitados piadistas não sabem é que, quando Daiane e Rafael se conheceram, foi a diferença que a instigou. Daiane conta que havia se mudado de sua Goiânia natal para São Paulo para defender a candidatura ao Miss Bumbum Brasil. Organizado há três anos pelo promoter Cacau Oliver, o concurso promove uma votação na internet com candidatas dos 27 Estados da Federação, de onde saem as 15 indicadas para a finalíssima, decidida por jurados em um hotel de luxo na cidade.
A goiana de 26 anos montou seu “comitê de campanha” no Facebook e adotou a política de aceitar todos os convites de amizade que marmanjos-eleitores lhe propusessem. Um deles foi Rafael, que só tinha fotos da cintura para cima em seu perfil.
“Todo dia ele me escrevia no inbox, a conversa era até boa, mas sempre terminava com ele me convidando pra sair”, lembra Daiane. “Eu pensava: Só porque ele é bonito tá achando que vai me pegar?”
Apenas na enésima proposta, Rafael enviou uma foto sentado na cadeira de rodas. Daiane conta que levou um susto, mas ficou intrigada e aceitou. Ele foi buscá-la em seu Chevrolet Captiva adaptado para cadeirantes. Beberam, “dançaram” (mesmo com ele na cadeira) e terminaram a noite juntos.
Quando essa reportagem de Vera Garcia foi feita, Daiane e Rafael estavam namorando há quase um ano e muito felizes.
A pior deficiência de um parceiro amoroso é a de não se dedicar completamente a uma relação: respeitando os desejos e necessidades outro, sendo honesto e fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para fazer o outro feliz.
Problemas físicos, como paralisias e deformidades, sem dúvida tiram o glamour dos nossos contos de fadas. Mas li esta reportagem e fiquem pensando nos bonitões cafajestes que andam por aí. E também nos diversos namorados que entram em nossas vidas a todo vapor, e depois relaxam e todo o romance e atenção que nos davam diminui ou até desaparece. Então, quão longe nos leva o tal glamour em relacionamentos entre não deficientes? E se nem sempre ele vai tão longe, a falta dele deveria ser razão para excluir alguém que não se adequa ao modelo do homem que idealizamos?
Não sejamos hipócritas. A capacidade de fazer sexo e de interagir em atividades da vida social são dois aspectos fundamentais numa relação saudável. Quanto mais incapacitado for o parceiro que você está considerando, maior será o seu desafio.

Se uma fatalidade ocorre com o seu atual parceiro e ele se torna incapacitado, é diferente – vocês já tem história juntos. E dependendo do que ele passou – vindo da guerra ou sobrevivendo a um acidente grave, por exemplo – você pode estar tão feliz dele estar vivo, que os desafios não te incomodarão.
Mas se você está começando a se envolver com um deficiente físico, deve parar para avaliar a extensão da incapacidade dele e que estilo de vida vocês poderão ter. Se faça as seguintes perguntas:
1- Este homem consegue acompanhá-la em pelo menos parte das atividades sociais que você aprecia?
2- O sexo, dentro das limitações do seu parceiro, é e será no longo prazo satisfatório para você?
3- Se for o caso de ausência do sexo tradicional, isso pode ser substituído por outro tipo de interação erótica que mantenha o elemento atração presente no relacionamento?
4- E finalmente, o que você está recebendo em troca pelo que irá abdicar, a está alimentando emocionalmente o bastante para assumir um compromisso?
Fazer-se estas perguntas e respondê-las com total honestidade a ajudará a tomar uma decisão consciente. Você não deve ficar com ninguém (deficiente ou não) pois está carente e aquela pessoa te idolatra. Não é justo fazer “experimentos” e depois acabar magoando alguém que já tem que lidar com bastante problemas.
Eu concordo com o jornalista e cadeirante Marcelo Rubens Paiva. Achei o livro dele excepcional, e pessoalmente, ele me esclareceu a ideia errônea de que pessoas em cadeira de rodas são doentes. Isto por sua vez, me abriu os olhos também para encarar possíveis parceiros nestas condições, o que eu faria, sem hesitar, após ter feito a análise que sugeri acima.
Ao longo dos meus estudos de casais, percebi que depois que a magia da beleza, das aventuras e até do tão essencial sexo, se extingue, todos querem alguém com quem possam ser eles mesmos, e ainda assim, ser amados. Todos querem alguém que os faça rir, que seja solidário diante de suas agonias, e que os faça perceber como cada minuto de felicidade é precioso.
Me pergunto se alguém que passou por tanta dor e encara diariamente as dificuldades de um deficiente, não possui todas as habilidades acima muito mais aguçadas do que nós. Eles sem dúvida são extremamente fortes, pacientes e otimistas. E para algumas privilegiadas, eles poderão acabar sendo os melhores parceiros amorosos que elas já tiveram.

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